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O Pacto: Estrutura para a Vida e a Família

Willem A. VanGemeren

O conceito de família tem sido diminuído em nossa sociedade. O individualismo e a linguagem politicamente correta desgastaram a imagem clássica da família. Enquanto a “imagem” da família nuclear não é necessariamente bíblica, existem forças que procuram destruir a família como se esta fosse uma antiga relíquia do legado judaico-cristão.

O conceito bíblico de pacto tem relação com o nosso entendimento da família de uma perspectiva cristã. A palavra “pacto” é encontrada tanto no Novo como no Antigo Testamento. Esta palavra freqüentemente designa o relacionamento que Deus graciosamente mantém de geração em geração com seres humanos pecaminosos e frágeis.

Em primeiro lugar, o Senhor é quem inicia o relacionamento. Um pacto divino é monenergístico (isto é, Deus inaugura o relacionamento e garante o seu cumprimento). O pacto não é tanto como um contrato onde ambas as partes concordam com os termos do mesmo, que eles assinam na presença ou não de testemunhas, e são responsáveis em cumprir os termos legais dentro de um certo prazo. Um pacto, uma aliança, é um acordo que Deus estabelece, assina e concorda com os termos de seu cumprimento.

Os pactos de Deus são justamente designados como “administrações soberanas da graça”. A palavra “soberanas” realça a fonte da graça: é Deus quem inicia e quem mantém o relacionamento. Se dependesse dos homens, os pactos seriam nulos e vazios, porque por nossa própria natureza somos seres que quebram pactos. Cada pacto é um seguro do compromisso de Deus em manter o Seu relacionamento.



O PACTO COM A CRIAÇÃO

Na criação Deus fez um pacto com todos os viventes, inclusive com os humanos. Apesar da terminologia do pacto não ser formalmente usada nos capítulos um e dois de Gênesis, a idéia está implícita ali. Deus decreta que o mundo venha a existir, coloca todos os componentes harmoniosamente juntos, e chama a família dos humanos para servi-LO. A ordem na criação veio através do FIAT divino. Deus falou e criou um mundo com grande variedade e harmonia.

A ordem é tanto conservativa como progressiva. Deus ama a ordem, porém não a ordem estática. NEle há grande variedade, “Quantas são, Senhor, as Tuas obras! E todas fizeste com sabedoria; a terra esta cheia das tuas criaturas.” (Salmo 104:24). A congruência de todas as suas partes permite uniformidade assim como progressão. Por um lado Deus mantém todas as Suas obras. Por outro lado Ele assegura que a obra das Suas mãos amadureça, progrida e se desenvolva. A criação está sujeita ao tempo, e como tal, participa na história da natureza. O sistema solar efetua um ciclo de dia e noite, de estações e de anos. Dentro da seqüência do tempo as árvores e as plantas se cruzam, e as criaturas viventes (animais e seres humanos) se reproduzem. Depois de um tempo a criação é aumentada pela grande variedade dentro das espécies; isso é possível por meio de variações genéticas.

A ordem da criação também é a preocupação dos humanos. Deus nos ordenou que O sirvamos. Este mandado vem a nós com duas provisões. Em primeiro lugar, o Senhor dotou os seres humanos com a Sua imagem. Nós somos semelhantes a Ele no que diz respeito ao caráter (por exemplo: amor, compaixão, fidelidade, pureza, paciência, retidão e justiça), em nossa habilidade de nos comunicarmos e em nossa competência para operarmos no Seu mundo. A segunda provisão é a Sua bênção. A bênção divina é uma graça que nos capacita a viver e experimentar vitalidade em nossa existência. Vitalidade é um dom que assume várias formas na vida diária: o prazer na comida e na bebida, a habilidade de estabelecer uma família e multiplicar-se, o vigor da saúde e da vida, a competência e a prática que fazem uma pessoa criativa e produtiva, a parte social e a sabedoria necessária para manter um círculo social, e a comunicação significativa.

O gracioso comprometimento de Deus com o mundo e conosco é o contexto da responsabilidade humana. Pela graça de Deus é que gozamos a vida, sustentamos nossa existência física, nos comunicamos, desenvolvemos um círculo social, alcançamos o sucesso e nos reproduzimos. No entanto, o gozar da Sua graça necessita uma submissão apropriada ao Seu senhorio. Esta resposta vem em formas de amor a Deus, submissão à Sua vontade, uma imitação dEle e zelo pela glória do Seu nome. Nós fomos criados com a desejo de servi-LO bem ou mal, refletir o Seu caráter ou desenvolver deficiências de caráter, de melhorá-lo ou obstrui-lo.

O Senhor colocou o caráter de Adão e Eva à prova. Eles “rodaram no teste”. O seu fracasso por meio da desobediência em glorificar a Deus não acabou com o casamento deles, com seu lugar especial na ordem divina ou com a dignidade deles. O seu fracasso alterou radicalmente o relacionamento pactual porque inaugurou uma nova dimensão para o pacto, Deste ponto em diante o pacto se trona “uma administração soberana de graça, na qual o Senhor continua a abençoar as suas criaturas, mesmo estando elas sob condenação”. O pacto de Deus para com a criação desde a queda até a segunda vinda do Senhor Jesus é a segurança de que Ele sustenta a ordem por Ele criada, porém a totalidade da Sua bênção diminui ao ponto de se tornar um “pinguinho” (Rom. 8:22).

Deus limitou a Sua bênção, porém não a encerrou. Se Ele parasse de enviar Sua bênção, nós seríamos letárgicos e seríamos extintos rapidamente. O salmista expressa muito bem este sentimento: “Se ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao seu pó. Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra. A glória do Senhor seja para sempre! Exulte o Senhor por Suas obras!” (Salmo 104: 29-30).

A queda da humanidade alterou nosso relacionamento com Deus assim como a operação das provisões. Enquanto que ainda refletimos o caráter de Deus, a Sua imagem em nós tem sido arruinada por causa do pecado. Expressões egoístas são mais a regra do que a exceção: amor próprio, dureza, infidelidade, impureza, impaciência, falta de retidão, injustiça e etc. No que Deus graciosamente concedeu “vitalidade”, a existência humana, a queda, por sua vez, introduziu “morte”. Morte é aquela experiência em que vivemos alienados do Eu, dos outros humanos, do mundo e especialmente de Deus. É o oposto da vitalidade, no que a morte diminuiu o nosso gozo da vida e nosso senso de propósito.



O PACTO COM NOÉ: A GRACA COMUM

Esta ênfase bíblica do envolvimento de Deus com a criação, incluindo a humanidade caída, é o tema do pacto de Deus com Noé (Gen. 9:8-17). Ele confirma o cuidado de Deus para com a família humana, mesmo quando vivemos em rebelião, corrupção e alienação (Gen. 3; 6; 11). Por outro lado, nós suportamos angústia e dor (Gen. 3:16-17; Salmo 90:9-10), somos sujeitos a deterioração física terminando em morte (Gen. 3:19), gozamos um período limitado de vida (Salmo 90: 10), e pior de tudo, estamos sob condenação de eterna separação da Sua comunhão (Rom. 5:16). A experiência da dor põe em risco nossa perspectiva porque nós estamos preocupados com a nossa maestria, triunfo e sucesso. Por outro lado, Deus mantém aberta uma possibilidade de relacionamento com Ele. Nós não somos possuídos pelo mal e nem somos demoníacos. Enquanto somos totalmente depravados, ainda assim somos portadores de uma imagem. O pacto é uma certeza, uma segurança de que nós, enquanto estamos sob condenação, ainda podemos gozar da graça de Deus. Esta graça também conhecida como graça comum, assegura benefícios para todas as criaturas. Como disse Jesus, “...porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5:45).



PACTO COM ABRAÃO: GRACA ESPECIAL

O pacto com Abraão garante tanto graça como promessa. A graça de Deus que foi depositada sobre Abraão e seus descendentes é especial no sentido de que Deus traz pessoas à comunhão com Ele, assegura-lhes a Sua presença e lhes dá a esperança de restauração. A graça especial vem através da eleição e de promessas. Antes de Abraão Deus já havia demonstrado um amor especial por algumas pessoas (Enoque, Noé). Mas para com Abraão, Ele revelou Seu maravilhoso plano de uma nova ordem. Olhemos agora? Analisemos agora vários aspectos diferentes do pacto abraâmico (de Abraão).



ELEIÇÃO

Deus escolheu livremente a Abraão. A posição privilegiada dele era imerecida: “Pois eu o escolhi (em hebraico: “o conheci”) (18:19). A posição nacional de Israel também era uma posição de graça, porque o seu titulo não veio por causa de sua retidão (Deut. 9:5). O que é central para o relacionamento entre Deus e Seu povo é o status especial deste povo: “o povo de Deus”. “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decorrer das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência.” “...porque a ti e a tua descendência darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a Abraão, teu pai. ” (Gen. 17:7;26:3). O povo de Deus também tem uma esperança e um propósito. Na realidade de uma vida repleta de adversidades o homem piedoso deposita a sua esperança na promessa do Senhor de que Ele “acampa” no meio do Seu povo.



PROMESSAS

Deus prometeu estar com Abraão e multiplicar sua família, prometeu estar com a sua descendência, protegê-los na terra de Canaã, e fazer deles uma fonte de bênção para as nações (Gen. 12: 2-3). Ele prometeu proteger e libertar os seus (Gen. 15 e 17). O Senhor inclinou-se em direção à família de Abraão para ser seu protetor. A promessa da Sua proteção é aumentada mais adiante através da promessa da Sua bênção. Como a promessa de Deus foi Sua palavra em libertar o Seu povo, a bênção foi a Sua promessa em assegurar a prosperidade, a alegria e segurança deles. Assim como Sua presença era a garantia de que Ele iria protegê-los dos seus adversários, era também a garantia da Sua bênção. Deus entra no mundo como o libertador (O Guerreiro Divino) do Seu próprio povo. Esta dimensão é desenvolvida mais adiante no tabernáculo no Velho Testamento, na experiência do Êxodo de Israel e da conquista da terra prometida, na sua existência em Canaã, na restauração de Israel do exílio, na vinda de Jesus Cristo, no ministério do Espírito Santo, e na esperança bíblica da vinda gloriosa do nosso Senhor.

A proteção de Deus vai além da esfera individual. O Senhor confirmou Suas promessas e o pacto com os descendentes de Abraão: Isaque, Jacó e as tribos de Israel. Deus é o Deus que vai além das gerações, O “Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó” (Ex. 3:6). E como tal, os privilégios do pacto estão em aberto para a família de Abraão. Mais do que isso, implica nas promessas que inclui as famílias de todas as nações: “Quanto a mim, será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações“ (Gen. 17:4). Este contrato deu proteção a todos os não-israelitas que procuraram proteção no Deus de Abraão durante o antigo pacto, e o mesmo contrato predisse a perspectiva cósmica do novo pacto.



FÉ VIVA

Considerando que o relacionamento da família abre as portas para a graça especial, a verdadeira participação no pacto é condicionada pela obra do Espírito na vida do indivíduo, e resulta numa expressão pessoal de fé no Senhor do pacto. Fé é uma expressão de confiança no Senhor. Abraão teve tal fé: “Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gen. 15:6). Fé viva também inclui uma dimensão ativa, demonstrando amor pelo Senhor através da obediência à sua vontade. O estilo de vida de participação no pacto é melhor expresso por meio da palavra “integridade” (Gen. 17:1). O povo do pacto é contracultural pois se submetem à vontade revelada de Deus somente, ao invés de viverem segundo as tradições de sua cultura (18:18-19).



A NOVA ALIANÇA: A GRACA ESPECIAL DE DEUS PARA TODAS AS FAMÍLIAS DA TERRA

O espaço não nos permite explorar os pactos com Moisés e Davi. Cada um destes é uma expressão com nuance e desenvolvimento do pacto abraãmico; cada um deles é um seguro da graça e da promessa de Deus. Ao contrário da opinião popular, o pacto mosaico é uma garantia da graça, porém ele é coberto pelas sombras das ameaças de punição. O pacto davídico é uma garantia da presença de Deus e Sua proteção através do reinado do seu rei messiânico. Os sábios inspirados, salmistas e profetas de Israel desenvolvem a esperança de um descendente da linhagem de Abraão e Davi, o qual viveria em integridade diante de Deus, removeria a “maldição” da lei, renovaria a aliança, estabeleceria um reino de justiça e retidão, e governaria com equidade sobre todas as nações.

O Novo Testamento confirma que este Um é o Senhor Jesus. A revelação de Deus em Jesus Cristo abriu as portas para uma nova administração (governo). Todos os pactos de Deus se unem sob uma só administração: sob a Nova Aliança. Jesus é o “resplendor da glória de Deus” (Heb.1:3), é O Filho (3:6) e o Sumo-Sacerdote mediador (4:15; 5:5; 8:1-2; 12:24). Ele é o Bom Pastor que deu Sua vida em favor de judeus e gentios (Jo. 10:11,16). Ele foi fiel ao que foi estipulado no pacto mosaico (Mat.5:17), completou Seu ministério sobre a terra, suportou a maldição da lei (Gal. 3:10-13), sofreu vicariamente, ressuscitou dentre os mortos, encontra-se assentado com o Pai na glória (Atos 2:31-36), e reina sobre a Igreja assim como sobre toda a criação (Col. 1:18-20 ).

O sacrifício de Sua vida em favor dos Seus pôs fim à era dos sacrifícios, do templo, do sacerdócio e das cerimônias. Todos os que a Ele pertencem tomam parte na Nova Aliança, da qual Jesus falou pouco antes da Sua morte: “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.” (Lucas 22:20). A Igreja como sendo nova comunidade de Deus participa na Nova Aliança da graça, que pode ser definida como “uma soberana administração da graça e promessa na qual o Pai chama pessoas para si, renova-os por meio da presença regeneradora e santificadora do Espírito, justifica-os e adota-os como sendo filhos de Deus em união com Seu Filho e os sela para o dia da Sua gloriosa redenção. Como Paulo declara, “E aos que predestinou, a esses também chamou, e aos que chamou , a esses também justificou, e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rom. 8:30; 20-21). A redenção dos santos também significará a libertação da escravidão e das amarras e a restauração da ordem criada: “A própria criação será liberta da sua escravidão da degeneração e trazidos à gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8:21).

Jesus é o Senhor da Nova Aliança. É dEle o soberano governo sobre a Igreja e sobre a criação. Por um lado, os membros da Sua Igreja são grandemente abençoados (Efésios 1:3). Suas bênçãos são espirituais, assim como materiais. Por causa de Jesus, nós experimentamos o perdão de Deus, Seu grande amor, os benefícios de ser filhos de Deus, a presença do Espírito, e a certeza da esperança da glória. Por causa de Jesus, nós também experimentamos as dádivas em forma de comida e bebida, saúde e condição física, e o especial presente que são os nossos filhos (Mat. 6:33-34). Como herdeiros da Sua graça e das Suas promessas, os filhos da aliança são uma bênção de Deus (“vitalidade”). Eles nascem no contexto da graça especial de Deus. Eles não estão fora, porém dentro do pacto da graça. Deles são as promessas e a bênção, “A promessa e para vós e para vossos filhos e para todos os que estão longe, para todos que o Senhor nosso Deus chamar” (Atos 2:39). A sua criação e educação, portanto, devem ser vistas de uma perspectiva da aliança.

A soberania de Jesus também tem uma relação com nossas vidas. É nossa a responsabilidade de viver vidas piedosas diante de nossos filhos, para que eles possam ver como nossas famílias diferem das famílias que não conhecem a Jesus. As injunções dos apóstolos (Ef. 6:1-4; Col. 3:18-21; I Pe. 3:1-7) colocam o modo de vida que o Senhor Jesus espera de maridos cristãos, esposas, pais e filhos. Famílias cristãs fazem diferença no mundo de Deus.

Por outro lado, o senhorio de Jesus se estende para além da igreja (Ef. 1:10). O cosmos todo é mantido sob Seu domínio e a Ele pertence (Col. 1:17). A alegria e a vitalidade que os nossos vizinhos não cristãos gozam são um presente de Cristo. Eles vivem por causa dos Seus graciosos benefícios. No entanto, eles também terão de prestar contas quando Ele vier para estabelecer Sua soberania, daí virá o fim, quando Ele entregar o reino nas mãos de Deus o Pai, depois que Ele tiver destruído todo domínio, autoridade e poder. “Porque convém que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos Seus pés” (I Cor.15:25-26).

Concluindo, Jesus não se relaciona conosco apenas como indivíduos. Cristo é o Senhor soberano que convida os indivíduos a serem membros da Sua aliança. Cada crente é um membro da comunhão do pacto que engloba todos os Cristãos na ordem criada. Como Senhor Soberano, Jesus nos assegura da graça de Deus, da realidade da presença de Deus conosco, da aplicação da Sua graça e promessa aos membros de nossa família, e do futuro glorioso que nos espera com Ele. Porém o Senhor Jesus espera ver nossas vidas refletindo o zelo por Deus, uma paixão por nossa família, amor pela humanidade, e uma preocupação para com o Seu mundo.

O senhorio de Jesus também se estende a toda ordem criada através da graça comum. A Sua soberania se estende para além da igreja local ou da denominação. Este entendimento mais amplo da aliança nos ajuda a entender que a graça de Deus se estende para além da Igreja, para o mundo todo. Uma abordagem mais empática (de empatia) para com o mundo de forma mais ampla pode promover um espírito de compaixão para com a humanidade e uma prontidão intercultural para construir pontes para as pessoas que necessitam do Salvador. Enfim, eles são recipientes dos benefícios da graça comum de Deus. A dor deles é um lembrete de que eles também podem encontrar a graça salvadora no Senhor Jesus!





Willem A. VanGemeren é professor do VT no Trinity Evangelical Divinity School em Deerfield, IL. Antes de vir para o Trinity, lecionou no Geneva College e no Reformed Theological Seminary. Ele é holandês e formou-se na Universidade de Illinois, Westminster Theological Seminary, e na Universidade de Wisconsin. Ele escreveu vários livros inclusive “O Progresso da Redenção”.

OS QUE PERTENCEM À IGREJA


A Igreja é a comunidade dos santos, a comunidade dos fiéis e eleitos de Deus. Pertencem à ela todos aqueles a quem o Senhor de fato remiu. Fora dela não há salvação, embora não seja ela quem salva o pecador, mas o Senhor que a fundamentou. Não há eleitos que estejam fora que não venham pertencer à igreja, pois Cristo os conduz à ela. Disse Jesus: Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um pastor.

Calvino dizia: “há muitas ovelhas fora da igreja, e muitos lobos dentro dela”. A conversão de Paulo e os exemplos de Ananias e Safira assim como o de Simão, o mágico, relatados nos capítulos 5,8 e 9 de Atos elucidam esta assertiva.

Pertencer à Igreja de Cristo e ser salvo é possuir as marcas da eleição. E quais são essas marcas? Analisemos o texto bíblico: pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: sede santos, porque eu sou santo... Tendo purificado a vossa alma, pela obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. As marcas de quem pertence à Igreja de Cristo, de acordo o texto são: a Regeneração; a Comunhão dos santos; a Santidade e a Fidelidade ou observância à palavra de Deus.

A igreja é composta de todos os eleitos de Deus, nos quais se verificam a eleição de Deus, o Pai, a purificação de Deus, o Filho e a santificação de Deus, o Espírito.

O bispo Jewell, o reformador, disse o seguinte: “Os inimigos da verdade ensinam muita doutrina falsa debaixo do nome santa igreja, porque nunca houve nada até hoje tão absurdo ou tão perverso, que não fosse fácil defender sob o nome da igreja”. O apóstolo Paulo ensina: “Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de cristo. o destino deles é a perdição e o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com coisas terrenas.”

Muitos podem não ser da verdadeira igreja, assim devemos perguntar: pertenço a qual igreja? À comunidade dos fiéis e eleitos ou à comunidade daqueles cuja fé só atenta para as coisas terrenas?

Antonivaldo de Jesus Silva

Evangelicalismo moderno: um sério desvio bíblico-teológico da igreja brasileira




Acredito, que a causa principal da ojeriza que as pessoas sentem pelos evangélicos brasileiros é devido a figuras caricatas, personas non gratas - os pregadores televisivos, paladinos da Teologia da Prosperidade (donos de igrejas-empresas). Teólogos neoliberais, pregadores de uma teologia deformada, gerada por uma hermenêutica deformada que formam crentes deformados, ininteligentes e ignaros, incapzes de tecer uma cosmovisão genuinamente bíblica e persuasiva.

João Calvino dizia: “A fé consiste no conhecimento, não na ignorância”. Não tenho dúvida alguma, que a essência da fé cristã está na Teologia Biblica resgatada pelos reformadores do séc. XVI. Todavia o evangelho que se vive hoje é uma caricatura híbrida do relativismo-existencialismo-pluralismo-liberalismo teológico. Que produz mensagens vazias de auto-ajuda, falsas promessas, psicologia barata sem qualquer embasamento consistentemente bíblico-teológico.

Jonh Stott, um dos maiores teólogos contemporâneos, classificado pela revista Time, em 2005, como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, em seu formidável livro CRER TAMBÉM É PENSAR, cita uma frase do doutor John Mackay, à época, Presidente do Seminário de Princeton, que muito retrata a cara do evangelicalismo brasileiro: “Comprometimento sem reflexão é fanatismo em ação, reflexão sem comprometimento é a paralisia de toda ação.”

O crescimento exorbitante do evangelicalismo brasileiro assusta-nos pela falta de uma teologia bíblica consistente, pela onda de anti-intelectualismo e de fé pragmática-existencialista sem reflexão bíblica. Se a igreja brasileira não aspirar por uma reforma bíblico-teológica como no sec. XVI, essas hidras pós-modernas continuarão crescendo e matando a fé evangélica com seu mau hálito venenoso da teologia barata . É preciso definirmos quem somos para não sermos confundidos com quem nada é.






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