domingo, 22 de setembro de 2013


AS PROMESSAS DE DEUS: A ESPERANÇA ESCATOLÓGICA DO A.T.

 

 

Texto Bíblico: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.  (Gn 3.15)

 

A bíblia nos apresenta três virtudes essenciais que o cristão maduro deve possui: amor, fé e esperança. Dessas três, a esperança é a que fundamenta nossa escatologia.

 Quando falamos em escatologia pensamos imediatamente no livro de Apocalipse. Porém, devemos nos lembrar de que a bíblia inteira, desde Genesis é um livro essencialmente escatológico. Na escatologia está baseada esperança do povo de Deus.

A palavra escatologia advém de dois vocábulos gregos, escaton= últimas coisas e logia= estudo, significando, assim estudo das últimas coisas.

Existe uma harmoniosa relação entre criação, redenção e consumação. O propósito de Deus de criar, redimir e salvar um povo será levado à consumação desse propósito.

 É necessário ao crente ter aquela virtude essencial: a esperança (RM 8.24).

Não devemos ficar concentrados em especulações futuristas como fazem os dispensacionalistas que focam sua teologia escatológica no milênio e ignoram o sentido teológico e escatológico do A.T.

Existe uma profunda e harmônica relação entre passado - presente e futuro. Aquilo que Deus prometeu no passado, cumpriu na presente era e o que cumprirá no tempo vindouro. Essa é a real cosmovisão bíblica.

 Aos acontecimentos escatológicos do A.T. Anthony Hoekema chama de escatologia inaugurada.

 

I.                    A PRIMEIRA E BASILAR PROMESSA ESCATOLÓGICA DO A.T.

 

O pecado de Adão e Eva resultou na perda do direito diante de Deus, queda total da humanidade na Graça e sujeição do homem à ira e maldição. Toda a criação foi corrompida pela queda do homem. O pecado do homem afetou a criação. Todavia, os planos de Deus para a humanidade não estavam acabados.

 

Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.  (Gn 3.15)

 

Como diz Hoekema “a partir deste ponto, tudo na revelação do A.T. olha para frente, e ansiosamente aguarda o redentor prometido”. Essa promessa-mãe, o Proto-Evangelho norteia toda a esperança escatológica do povo do A.T. Essa promessa deixou o inimigo (Satanás) em polvorosa, atormentado.

Em Apocalipse 12, João descreve esse desespero do inimigo. “Viu-se, também, outro sinal no céu, e eis um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas. A sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para a terra; e o dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse.”  Nos veros 3 e 4 ele fala de uma mulher que sofre dores de parto. “Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz.”

Quem é essa mulher? É a igreja. A igreja do A.T e também a igreja do N.T (Ap 12.13-18). A mulher representa Israel que dá a luz ao redentor prometido (Jesus).

Israel sempre esteve na expectativa da vinda do redentor, daquele que viria para libertar o seu povo.

 

Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. (Lc 2.25)

 

Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam. (Lc 24.21)

 

Veja os textos bíblicos do A.T que mostram a esperança nessa promessa: (Gn 22.18; 26.4; 28.14; Dt 18.18; Sl 110.4; Is 7.14; Zc 9.9)

Agora vejamos o que diz Gn 49.8-10:

 

Judá, teus irmãos te louvarão; a tua mão estará sobre a cerviz de teus inimigos; os filhos de teu pai se inclinarão a ti. Judá é leãozinho; da presa subiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como leão e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos.

 

 

 

Também em 2Sm 7.12,13 Deus promete a Davi que estabeleceria seu reino para sempre (Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino.  Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.). Segundo Hoekema, “o crente veterotestamentário aguardava um redentor, de maneiras diversas e pelo sentido de várias figuras, que deveria vir em algum tempo futuro para redimir o seu povo e, também para ser a luz dos gentios.”

 

II.                 O DESENVOLVIMENTO ESCATOLÓGICO DO A.T.

 

 

À medida que a história do Pacto vai se desenrolando, a partir da promessa-mãe em Gn 3.15, a escatologia do Antigo Testamento foi sendo desenvolvida no plano da Aliança da seguinte forma:

 

 

 

1). A Promessa da Nova Aliança

 

 Um dos incrementos que foram acrescentados e desenvolvidos na expectativa escatológica de Israel foi a renovação da aliança. Estava prometida uma nova e eterna aliança. Será uma aliança perfeita e que jamais será quebrada.

 

Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. ( Jr 31.31-33)

 

Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi. (Is 55.3)

 

2). A Promessa da Restauração de Israel

 

A ideia da aliança tem relação com a restauração da nação de Israel. Primeiro Deus promete formar uma grande nação (Gn 12.1-3), porém, essa nação estava sempre em juízo diante de Deus. Deus já havia previsto que não salvaria toda a nação e sim um remanescente fiel.

Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco. (Is 6.13)

Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, o restante se converterá; destruição será determinada, transbordante de justiça. (Is 10.22)

 

Esse remanescente de acordo com o Apóstolo Paulo é a igreja “Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Rm 9.27). Para ele o remanescente é uma parte de Israel que faz parte da Igreja “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm 11.5) e que diferentemente do que dizem os dispensacionalistas não é possível que todo o Israel seja salvo, caso não se arrependa e seja enxertado - plantado por Deus no novo Israel “Eles também, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo.” (Rm 11.23).

 

3). A Promessa do Derramamento do Espírito

 

Outra promessa que estava ligada à esperança escatológica de Israel era a promessa do derramamento do Espírito (Is 32.15-17). O profeta Joel foi quem profetizou essa promessa de modo mais claro.

E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR. (Jl 2.28-31)

 

4). A Promessa do Dia do Senhor

 

O dia do Senhor implica um tipo de socorro divino contra os inimigos, principalmente contra o cativeiro babilônico. Porém o dia do Senhor nas profecias do A.T tem um caráter tanto positivo quanto negativo. O dia do Senhor seria de esperança apenas para o remanescente fiel, mas para os infiéis seria de juízo.

 

Ai de vós que desejais o Dia do SENHOR! Para que desejais vós o Dia do SENHOR? É dia de trevas e não de luz. (Am 5.18).

 

5). A Promessa do Reino de Deus

 

No A.T a ideia do Reino de Deus estava relacionada à Pessoa do Messias. Com a promessa do Messias vinha a de um reino messiânico (Is 9.6,7; Jr 23.5,6; Dn 2.44). Esse reino será firmado par sempre e jamais será destruído.

 

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. (Dn 7.13,14)

 

   Deus havia feito essa promessa no pacto com Davi (2Sm 7.12,13), porém após a sucessão de Davi o reino de Israel fora dividido em dois: o do norte, Israel com 10 tribos e o do sul, Judá com 2 duas tribos. Mais tarde o reino do norte fora destruído e do sul levado ao cativeiro na Babilônia por 70 anos. A promessa de Deus estende-se mais além do que isso. Ela fala do reino do Messias. Aquilo era apenas a sombra do que haveria de vir.

 

6). A Promessa de Novos Céus e Nova Terra

 

Essa promessa é mais falada por Isaías.

 

Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas. (Is 65.17)

 

Aqui não temos um lar, uma pátria definitiva. Somos forasteiros e peregrinos (1Pe 1.1). Aguardamos a redenção. A consumação redentiva do plano de Deus. A manifestação da glória, da revelação dos filhos de Deus. Será a redenção não só nossa, mas de toda a criação afetada pelo pecado

A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos. (Rm 8.19-25).

 

A glória dessa nova terra será mostrada quando ela será unida a novos céus, quando o tabernáculo de Deus descer do céu, da parte de Deus Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo.” (Ap 21.1,2)

 

 

CONCLUSÃO

 

Devemos ver claramente que Deus, o Todo-Poderoso criou todas as coisas com um propósito perfeito e definido.

Deus executou seu proposito perfeitamente na escatologia inaugurada (as promessas e os acontecimentos do A.T.). Há ainda uma escatologia futura, coisas que estarão porvir;

Devemos viver na era presente com temor, santidade e fé expectativa, crendo na promessa de um Deus que não pode mentir e que cumpriu tudo o que havia prometido até aqui sabendo que da mesma forma cumprirá no futuro. Deus cumprirá com todas as promessas do que está por vir (escatologia futura) do mesmo modo em que cumpriu com as promessas do A.T que já forma e estão sendo cumpridas na era presente.

O Apóstolo Pedro nos orienta como deve ser nosso procedimento frente às promessas de Deus para o futuro “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça. Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis, e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pe 3.10-18).

 

 
 

 

RFERÊRENCIAS

 

HANKO, Ronald. Os Novos Céus e a Nova Terra. Disponível em: http://monergismo.com. Acesso em 14 de agosto de 2013.

 

HOEKEMA, Anthony.  A Bíblia e o futuro. São Paulo: Casa Ed. Presbiteriana, 1989.

 

LIMA, Leandro Antonio de. Razão da esperança - Teologia para hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

 

 

 

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