AS PROMESSAS
DE DEUS: A ESPERANÇA ESCATOLÓGICA DO A.T.
Texto Bíblico: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar. (Gn 3.15)
A bíblia nos apresenta três
virtudes essenciais que o cristão maduro deve possui: amor, fé e esperança.
Dessas três, a esperança é a que fundamenta nossa escatologia.
Quando falamos em escatologia pensamos
imediatamente no livro de Apocalipse. Porém, devemos nos lembrar de que a
bíblia inteira, desde Genesis é um livro essencialmente escatológico. Na
escatologia está baseada esperança do povo de Deus.
A palavra escatologia advém
de dois vocábulos gregos, escaton=
últimas coisas e logia= estudo,
significando, assim estudo das últimas coisas.
Existe uma harmoniosa
relação entre criação, redenção e consumação. O propósito de Deus de criar,
redimir e salvar um povo será levado à consumação desse propósito.
É necessário ao crente ter aquela virtude
essencial: a esperança (RM 8.24).
Não devemos ficar
concentrados em especulações futuristas como fazem os dispensacionalistas que
focam sua teologia escatológica no milênio e ignoram o sentido teológico e
escatológico do A.T.
Existe uma profunda e
harmônica relação entre passado - presente e futuro. Aquilo que Deus prometeu no passado, cumpriu na
presente era e o que cumprirá no tempo vindouro. Essa é a real cosmovisão
bíblica.
Aos acontecimentos escatológicos do A.T. Anthony
Hoekema chama de escatologia inaugurada.
I.
A PRIMEIRA E BASILAR PROMESSA ESCATOLÓGICA DO A.T.
O pecado de Adão e Eva
resultou na perda do direito diante de Deus, queda total da humanidade na Graça
e sujeição do homem à ira e maldição. Toda a criação foi corrompida pela queda
do homem. O pecado do homem afetou a criação. Todavia, os planos de Deus para a
humanidade não estavam acabados.
Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar. (Gn 3.15)
Como diz Hoekema “a partir
deste ponto, tudo na revelação do A.T. olha para frente, e ansiosamente aguarda
o redentor prometido”. Essa promessa-mãe, o Proto-Evangelho norteia toda a
esperança escatológica do povo do A.T. Essa promessa deixou o inimigo (Satanás)
em polvorosa, atormentado.
Em Apocalipse 12, João
descreve esse desespero do inimigo. “Viu-se,
também, outro sinal no céu, e eis um dragão, grande, vermelho, com sete
cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas. A sua cauda arrastava a
terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para a terra; e o dragão se
deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o
filho quando nascesse.” Nos veros 3
e 4 ele fala de uma mulher que sofre dores de parto. “Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a
lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que, achando-se
grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz.”
Quem é essa mulher? É a
igreja. A igreja do A.T e também a igreja do N.T (Ap 12.13-18). A mulher
representa Israel que dá a luz ao redentor prometido (Jesus).
Israel sempre esteve na
expectativa da vinda do redentor, daquele que viria para libertar o seu povo.
Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este
justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava
sobre ele. (Lc 2.25)
Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de
redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que
tais coisas sucederam. (Lc 24.21)
Veja os textos bíblicos do
A.T que mostram a esperança nessa promessa: (Gn 22.18; 26.4; 28.14; Dt 18.18;
Sl 110.4; Is 7.14; Zc 9.9)
Agora vejamos o que diz Gn
49.8-10:
Judá, teus irmãos te louvarão; a tua mão estará sobre
a cerviz de teus inimigos; os filhos de teu pai se inclinarão a ti. Judá é
leãozinho; da presa subiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como leão e como
leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre
seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos.
Também em 2Sm 7.12,13 Deus
promete a Davi que estabeleceria seu reino para sempre (Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei
levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o
seu reino. Este edificará uma casa ao
meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.). Segundo
Hoekema, “o crente veterotestamentário aguardava um redentor, de maneiras
diversas e pelo sentido de várias figuras, que deveria vir em algum tempo
futuro para redimir o seu povo e, também para ser a luz dos gentios.”
II.
O DESENVOLVIMENTO ESCATOLÓGICO DO A.T.
À medida que
a história do Pacto vai se desenrolando, a partir da promessa-mãe em Gn 3.15, a
escatologia do Antigo Testamento foi sendo desenvolvida no plano da Aliança da
seguinte forma:
1). A Promessa da Nova Aliança
Um dos incrementos que foram acrescentados e
desenvolvidos na expectativa escatológica de Israel foi a renovação da aliança.
Estava prometida uma nova e eterna aliança. Será uma aliança perfeita e que jamais
será quebrada.
Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova
aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que
fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do
Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver
desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de
Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas
leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o
meu povo. ( Jr 31.31-33)
Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa
alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis
misericórdias prometidas a Davi. (Is 55.3)
2). A Promessa da Restauração de Israel
A ideia da
aliança tem relação com a restauração da nação de Israel. Primeiro Deus promete
formar uma grande nação (Gn 12.1-3), porém, essa nação estava sempre em juízo
diante de Deus. Deus já havia previsto que não salvaria toda a nação e sim um
remanescente fiel.
Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser
destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados,
ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco. (Is 6.13)
Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a
areia do mar, o restante se converterá; destruição será determinada,
transbordante de justiça. (Is 10.22)
Esse
remanescente de acordo com o Apóstolo Paulo é a igreja “Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos
filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Rm
9.27). Para ele o remanescente é uma parte de Israel que faz parte da
Igreja “Assim, pois, também agora, no
tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm 11.5)
e que diferentemente do que dizem os dispensacionalistas não é possível que
todo o Israel seja salvo, caso não se arrependa e seja enxertado - plantado por
Deus no novo Israel “Eles também, se não
permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os
enxertar de novo.” (Rm 11.23).
3). A Promessa do Derramamento do Espírito
Outra
promessa que estava ligada à esperança escatológica de Israel era a promessa do
derramamento do Espírito (Is 32.15-17). O profeta Joel foi quem profetizou essa
promessa de modo mais claro.
E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito
sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos
sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas
derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra:
sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em
sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR. (Jl 2.28-31)
4). A Promessa do Dia do Senhor
O dia do
Senhor implica um tipo de socorro divino contra os inimigos, principalmente contra
o cativeiro babilônico. Porém o dia do Senhor nas profecias do A.T tem um
caráter tanto positivo quanto negativo. O dia do Senhor seria de esperança
apenas para o remanescente fiel, mas para os infiéis seria de juízo.
Ai de vós que desejais o Dia do SENHOR! Para que
desejais vós o Dia do SENHOR? É dia de trevas e não de luz. (Am 5.18).
5). A Promessa do Reino de Deus
No A.T a
ideia do Reino de Deus estava relacionada à Pessoa do Messias. Com a promessa
do Messias vinha a de um reino messiânico (Is 9.6,7; Jr 23.5,6; Dn 2.44). Esse
reino será firmado par sempre e jamais será destruído.
Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis
que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião
de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino,
para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu
domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.
(Dn 7.13,14)
Deus havia feito essa promessa no pacto com
Davi (2Sm 7.12,13), porém após a sucessão de Davi o reino de Israel fora dividido
em dois: o do norte, Israel com 10 tribos e o do sul, Judá com 2 duas tribos.
Mais tarde o reino do norte fora destruído e do sul levado ao cativeiro na
Babilônia por 70 anos. A promessa de Deus estende-se mais além do que isso. Ela
fala do reino do Messias. Aquilo era apenas a sombra do que haveria de vir.
6). A Promessa de Novos Céus e Nova Terra
Essa
promessa é mais falada por Isaías.
Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não
haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas. (Is 65.17)
Aqui não temos um lar, uma pátria definitiva. Somos
forasteiros e peregrinos (1Pe 1.1). Aguardamos a redenção. A consumação
redentiva do plano de Deus. A manifestação da glória, da revelação dos filhos
de Deus. Será a redenção não só nossa, mas de toda a criação afetada pelo
pecado
A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de
Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa
daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do
cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque
sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.
E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito,
igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção
do nosso corpo. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê
não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que
não vemos, com paciência o aguardamos. (Rm 8.19-25).
A glória dessa nova terra será
mostrada quando ela será unida a novos céus, quando o tabernáculo de Deus
descer do céu, da parte de Deus “Vi novo céu e
nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não
existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte
de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo.” (Ap 21.1,2)
CONCLUSÃO
Devemos ver claramente que
Deus, o Todo-Poderoso criou todas as coisas com um propósito perfeito e
definido.
Deus executou seu proposito
perfeitamente na escatologia inaugurada (as promessas e os acontecimentos do
A.T.). Há ainda uma escatologia futura, coisas que estarão porvir;
Devemos viver na era
presente com temor, santidade e fé expectativa, crendo na promessa de um Deus
que não pode mentir e que cumpriu tudo o que havia prometido até aqui sabendo
que da mesma forma cumprirá no futuro. Deus cumprirá com todas as promessas do
que está por vir (escatologia futura) do mesmo modo em que cumpriu com as
promessas do A.T que já forma e estão sendo cumpridas na era presente.
O Apóstolo Pedro nos orienta
como deve ser nosso procedimento frente às promessas de Deus para o futuro “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do
Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se
desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.
Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como
os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do
Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os
elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa,
esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça. Por essa razão,
pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele
em paz, sem mácula e irrepreensíveis, e tende por salvação a longanimidade de
nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a
sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato,
costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis
de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as
demais Escrituras, para a própria destruição deles. Vós, pois, amados,
prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo
erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei
na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja
a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pe 3.10-18).
RFERÊRENCIAS
HANKO,
Ronald. Os Novos Céus e a Nova Terra.
Disponível em: http://monergismo.com. Acesso em 14 de agosto de 2013.
HOEKEMA, Anthony. A
Bíblia e o futuro. São Paulo: Casa Ed. Presbiteriana, 1989.
LIMA,
Leandro Antonio de. Razão da esperança -
Teologia para hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
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