O homem foi criado à imagem
e semelhança de Deus. A criatura mais sublime do Criador foi coroada com
atributos, capacidades, volição, sentimentos e intelectualidade que refletem o
ser de Deus. A ele foi conferida uma liberdade tal que chamamos de livre
arbítrio. Antes da queda, o homem tinha total liberdade para dominar sobre as
demais criaturas, gerenciar e usufruir das coisas criadas. Essa liberdade
(livre arbítrio) lhe garantia, também, dominar seus sentimentos, aptidões e
vontades. Seus desejos, pensamentos, palavras e ações eram completamente puros
e por isso ele desfrutava de um relacionamento direto e estreito com Deus, de
modo que tudo isso satisfazia a vontade divina.
O livre arbítrio do homem
lhe permitia agir livremente de acordo com a sua própria vontade e
determinação. Contudo, Deus lhe traçou consoante essa liberdade que lhe dera
uma única restrição: não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal que
estava no meio do jardim (Gn 2.16,17). Dessa obediência dependia a liberdade
humana (livre arbítrio). Para continuar sendo um ser totalmente livre no seu
agir e na sua vontade, o homem precisava cumprir essa ordenança divina, a qual
chamamos Pacto de Obras. Tendo quebrado o pacto que Deus firmara com ele, o
homem caiu da Graça e deixou de ser totalmente livre em suas ações, volição e
intelecto para tornar-se escravo do pecado (Jo 8.34). A essa queda, a Teologia
Reformada denomina de Depravação Total, porém esse termo é muito mal
compreendido, seja pelos pelagianos que não aceitam a doutrina do pecado
original, seja pelos semi-pelagianos e arminianos que insistem que restou no
homem um pouco de bem depois da queda e acham que esse termo soa demasiadamente
desagradável, ou até mesmo pelos próprios reformados para quem a doutrina ficou
clara.
Quando afirmamos que o ser
humano é totalmente depravado em seu ser, não estamos dizendo que os homens são
tão ruins o quanto poderiam ser e o mais possivelmente imprestáveis. Dizer isso
seria uma incoerência bíblico-teológica e uma negação das doutrinas da Graça e
da imagem e semelhança de Deus. A Graça comum de Deus está sobre todos os
homens e conforme ela, Deus faz com eles ajam muitas vezes positivamente, ou
seja, fazendo coisas boas e refletindo a sua imagem e semelhança.
A depravação total consiste
em dizer que após a queda, o pecado entrou no homem de modo que todos os
atributos e faculdades humanos tornaram-se corrompidos (Rm 5.12). O salmista
expressa categoricamente esse estado de corrupção do gênero humano dizendo: “Não há parte sã na minha carne, por causa
da tua indignação; não há saúde nos meus ossos, por causa do meu pecado.” (Sl
38.3, ARA). O homem tornou-se tão corrompido que nem mesmo suas boas ações
podem está isentas da contaminação e influência do pecado, que o profeta Isaías
diz: “Mas todos nós somos como o imundo,
e todas as nossas justiças, como trapo de imundícia... (Is 64.6, ARA) e o
sábio Jó, sobre o homem, afirma claramente:
“Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!”(Jó 14.4, ARA).
Portanto, com o advento do
pecado pela própria voluntariedade do homem (Adão), este não apenas passou a
ser mortal e depravado em todo o seu ser, como também transmitiu a corrupção e
a morte a toda humanidade (Sl 51.5; Rm 5.12). Essa corrupção total do gênero
humano afetou aquela liberdade, chamada de livre arbítrio que ele possuía antes
da queda, de tal maneira que o fez escravo do seu pecado. O homem não pode mais
deixar de ser pecador, seu livre arbítrio agora se tornou escravo arbítrio, sua
liberdade total, passou a ser uma livre agência. Isso significa dizer que não
há nada que o homem faça agora, mesmo de acordo com sua livre vontade e
voluntariedade que não esteja eivado pelo seu pecado. Dessa forma, ele só pode
ser salvo e agradar perfeitamente a Deus através dos méritos, da obediência e
do sacrifício vicário de Cristo.